Comecei a recordar as histórias contadas por meu avô, quando ainda estava em meus primeiros anos de vida. Ele sempre me trazia relatos de nossos parentes, tanto próximos, quanto distantes. Lembro-me que suas histórias eram tão empolgantes que meus olhos, de tão fixos, pareciam que iriam saltar das órbitas, principalmente quando falava de nossos antepassados.
Entendi que aquele momento de recordações me ajudaria a enfrentar essa nova fase de minha vida, que eu iria ainda vivenciar. O que aconteceriria em minha vida, estava muito além de minha vontade e até mesmo de meu conhecimento. Tinha consciência que acontecesse o que acontecesse, eu não poderia opinar nem interferir em nada do que pudesse acontecer comigo. Pensava que por ter vivido bastante, meus dias de glória haviam chegado ao fim.
Não saberia prever o final de tudo aquilo e muito menos aonde eu chegaria. No lugar que vivera até então, juntamente com outros amigos meus, pudemos conhecer muitas pessoas ilustres e presenciar diversas conversas diplomáticas durante os coffe-breaks, segredos internacionais e muitas decisões que comprometeriam até a vida de muitos inocentes. Porém, todos poderiam ficar totalmente tranquilos quanto aos segredos ali compartilhados, pois sabiam que nossa presença não ofereceria perigo algum e que poderiam confiar totalmente em nós.
Agora, estávamos sendo levados a uma espécie de revisão; ali encontramos muitos de nossos parentes, com os quais pudemos compartilhar nossas experiências. Uns estavam sendo formados pela primeira vez; outros, como era o nosso caso, estavam ali para que fossem refeitos e, conforme ficasse nossa aparência final, seria decidido em qual lugar e/ou posição passaríamos o resto, ou então mais uma etapa, de nossas vidas.
Chegou a minha vez de ser trabalhado. Não me lembrava mais do que havia acontecido comigo quando fora feito pela primeira vez; mesmo porque, eu ainda não tinha experiência de vida; melhor dizendo, eu nem sabia o que era vida.
Quebraram-me…juntaram todos os meus cacos, que foram passados por cilindros e, em pedaços, colocaram-me de molho em água. Depois, através do processo de drenagem, tiraram toda a sujeira que, com o passar do tempo, havia sido impregnada no meu corpo; depois disso, já bem amolecido, fui sovado (amassado, enrolado e esticado) por várias vezes. Dores?… já nem sabia mais o que era sentir dor, pois naquela situação eu já estava como que anestesiado; depois eu entenderia que aquele processo que seria meu renascimento, estava apenas começando!
Aquela massa informe que um dia havia sido meu corpo, foi introduzida na maromba através de uma rosca helicoidal; em seguida, através de um processo a vácuo, essa máquina extraiu de mim todo o ar que eu pudesse apresentar, decorrente do processo de drenagem e sovagem.
Agora que meu corpo já apresentava perfeita homogeneidade, automaticamente a máquina cortou algumas sobras e deixou-me num formato de cilindro. Dali me levou para o torno onde ficaria na total dependência do oleiro para formar-me um novo vaso. Quando o torno começou a girar, o oleiro colocou levemente suas mãos habilidosas sobre mim e começou a moldar-me. Percebi que eu estava recebendo uma nova forma de vaso, muito diferente da anterior. O tempo que fiquei ali, girando sobre o torno foi tão extenso que acabei perdendo os sentidos várias vezes.
Terminado mais esse processo, o oleiro desenhou em meu corpo, vários detalhes com creme de argila; deixou-me descansar um pouco ao sol e em seguida mergulhou-me em verniz para dar-me cor e brilho. Depois me levou ao forno para que a estrutura do meu corpo pudesse ser fortalecida e assim, aumentar minha durabilidade. Nem é necessário comentar a respeito do sofrimento que enfrentei dentro daquele forno com uma temperatura superior a 1200°. Parecia-me que aquele processo de renascimento havia chegado ao fim; o que mais desejava agora, era olhar-me num espelho e poder entender porque eu havia passado por processos mais doloridos e constrangedores, do que meus amigos. Depois eu entenderia.
Fui embrulhado cuidadosamente e levado para outro local, onde viveria mais uma etapa de minha vida. Quando ali cheguei, pude entender o porquê de tanto sofrimento. O oleiro havia me dado a forma de um vaso de honra, pois fui colocado numa sala ampla e em posição de destaque. Todos que passavam, paravam para ver a beleza esculpida em meu corpo. Para qualquer lado que eu olhasse, podia ver perfeitamente como ficara minha aparência final. O chão era de mármore e nas paredes laterais havia diversos espelhos decorativos que, além de darem maior amplitude ao ambiente, eu podia ver minha imagem refletida de forma multiplicada.
Estava deslumbrado com minha nova forma e posição. Nos dias que se seguiram, foram chegando outros vasos para compor a decoração daquele ambiente, até que chegou o grande dia da inauguração. Ainda não sei dizer a finalidade do prédio em que me encontro atualmente; apenas entendo, que aqui é o salão principal. Agora já não me lembro mais do sofrimento que passei, pois estarei vivendo um período inédito de minha existência. Estou fazendo novas amizades e podendo compartilhar as novas experiências que adquirimos.
Creio que minha história fez com que você recordasse ter vivenciado situações constrangedoras, semelhantes à minha. Mas quero lembrá-lo de que somos formados do mesmo material (argila). A diferença é que nós, vasos, não temos vida em nós mesmos; mas você que está lendo esta minha história, recebeu fôlego de vida do próprio Deus.
Assim como eu me entreguei totalmente nas mãos do oleiro, faça da mesma forma; se entregue totalmente nas mãos de Deus. Você se lembra do Profeta Jeremias quando recebeu orientação divina, para que fosse na casa do oleiro? (A Bíblia Sagrada, Jr. 18). Ali Deus fez com que ele compreendesse todos os períodos inexplicáveis de solidão, sofrimento, desprezo, dores, incompreensões e angústia que, tanto ele quanto seu povo estava passando.
Para renascermos das cinzas e reconstruirmos uma nova vida, precisamos permanecer nas mãos do oleiro verdadeiro, que é o Deus Criador, o tempo que for necessário. Apesar de você ter livre-arbítrio e poder fugir dEle no momento que quiser, saiba que não vai valer a pena. Assim como eu suportei todo aquele sofrimento e fui colocado num lugar de destaque, creia que Deus, como um verdadeiro oleiro, fará da mesma forma em sua vida. Suporte um pouco mais, pois o seu último estado será muito melhor que o primeiro. Quando seus sonhos se tornarem realidade, tenha certeza que todo o sofrimento que você está passando se transformará em alegria.
“Para complementar esta crônica, escolhi três vídeos do youtube (links abaixo) para você entender melhor porque Deus comparou nossa vida, como a de um vaso nas mãos do oleiro. Creia que a bênção de Deus está, e sempre estará sobre aqueles que O buscam!!!”
Sonia Valerio da Costa
Em 19/10/2009