Quando falamos em trincheiras logo nos vem à mente diversos termos que representam o significado dessa palavra. Primeiro lembramos de proteção. Principalmente nas guerras, as trincheiras são construídas como forma de proteger os soldados dos ataques inimigos. Depois nos sugere também a existência do medo. Se não houvesse esse sentimento, as trincheiras perderiam o sentido de existir; por exemplo, no caso dos soldados, se não fosse o medo, não se sentiriam compelidos a buscar proteção atrás delas.
As trincheiras também nos oferecem confiança. Atrás delas, os soldados se sentem um pouco mais tranquilos, pois sabem que formam uma barreira suficiente para receber o impacto das bombas inimigas. Contamos também, com a segurança que elas oferecem durante o combate; nenhum soldado em sã consciência arriscaria sua vida numa guerra, se não pudesse contar com um mínimo de segurança. Mesmo que elas sejam destruídas, os soldados serão preservados.
Mas até agora, falamos apenas das trincheiras visíveis, porém sem essa compreensão teriamos maiores dificuldades para alcançar o principal objetivo deste texto, que é falar das invisíveis, que são aquelas criadas em nossa mente, para nos proteger dos ataques imperceptíveis nos relacionamentos sociais.
Nossa predisposição para o relacionamento social é que vai determinar se teremos uma guerra a enfrentar, ou acordos de paz a serem feitos. Em 24/01/2011, no Jornal da Band, pudemos ouvir uma expressão muito interessante da filósofa Márcia Tiburi: dizia ela, “como eu faço para viver junto com o outro? sob uma perspectiva egoísta, o outro é meu inferno e eu quero acabar com ele; sob uma perspectiva de compaixão, ele é meu paraíso e eu quero integrá-lo, compreendê-lo, conhecê-lo”.
Ninguém pode se considerar inteligente, competente e com conhecimento o bastante para declarar-se auto-suficiente. Sempre teremos algo que desconhecemos e que precisaremos buscar ajuda para a solução dos problemas que se apresentam diante de nós.
São nesses relacionamento sociais que criamos as trincheiras invisíveis para nos proteger. Essas atitudes sempre são decorrentes de situações traumáticas já vivenciadas anteriormente. Sempre que tentamos uma aproximação e não conseguimos transpor os desentendimentos iniciais, vamos acumulando desgostos e experiências negativas, até que perdemos a confiança em novas oportunidades de relacionamento.
Devido ao medo de nos decepcionarmos mais uma vez, preferimos a segurança de criarmos uma trincheira invisível, com a qual sentiremos confiança de que estaremos protegidos de uma nova decepção.
Propositadamente negritei quatro palavras do parágrafo anterior, pois quando elas passam a existir conjuntamente dentro de nós, acendemos o sinal vermelho e, inconscientemente, começamos a construir trincheiras invisíveis, ou fugindo de tudo e de todos, ou criando uma personalidade agressiva para intimidar aqueles que se achegarem a nós, buscando alguma forma de contato.
O maior problema dessas “trincheiras”, é que ao invés delas nos ajudarem socialmente, elas nos levarão sutilmente para o isolamento e solidão física; como fomos criados para viver e conviver em sociedade, essa atitude de nos afastarmos do convívio social, poderá gerar consequências às vezes irreversíveis, como doenças psicossomáticas, psicológicas e até mesmo mentais.
Precisamos entender que não somos os únicos a nos decepcionar com pessoas, pois nós mesmos, com certeza, já decepcionamos alguém. Outro ponto a considerar, é aceitarmos, dentro de um limite razoável, as diferenças de comportamento dos outros, entendendo que, se nós “suportamos” os outros, eles também irão nos “suportar”. Neste ponto ainda é necessário entender que, todos nós, em algum momento, seremos pessoas “non gratas” e sempre teremos que lidar com isso da melhor forma possível, sem que essas situações desagradáveis venham roubar nossas noites de sono.
O importante é não criarmos mais barreiras do que as que normalmente existem, para que possamos ter um mínimo de condições de nos manter inseridos de forma sadia na sociedade em que vivemos. Vale dizer também aqui, a respeito da importância de encontrarmos um ponto de afinidade com o “outro”, pois isto será uma porta aberta para o relacionamento social.
Não podemos construir barreiras, muros ou trincheiras; precisamos construir pontes de amizade, amor, carinho, companheirismo, compaixão, ternura e confiança mútua para, como disse a filósofa Márcia Tiburi, vivermos num paraíso, produzido pela integração, compreensão e conhecimento.
A única “trincheira invisível” que poderemos utilizar pela fé, é Jesus Cristo, pois Ele “apagará todos os dardos inflamados do malígno” (Bíblia Sagrada NVI, Efésios 6:16b); esses dardos, que também são invisíveis, atacam nossa mente para nos desviar da verdade da Palavra de Deus. Nesse mesmo capítulo do Livro da carta aos Efésios, o Apóstolo Paulo diz assim: “Pois nós não estamos lutando contra seres humanos, mas contra as forças espirituais do mal.” (Bíblia Sagrada NTLH, Efésios 6:12a)
Assim, precisamos entender que as decepções de relacionamento que enfrentamos, nos servem como aprendizado para um amadurecimento de nossa personalidade e também como experiência de vida; com essa “bagagem” de experiências poderemos ser usados por Deus, para incentivarmos os mais jovens que estiverem enfrentando esse mesmo tipo de situação. Poderemos dizer-lhes com propriedade, que todas essas coisas são passageiras e totalmente administráveis, principalmente quando temperadas com amor.
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém o maior destes é o amor.” (Bíblia Sagrada NVI, I Coríntios, 13:13)
Sonia Valerio da Costa
Em 25/01/2011